A MÁSCARA DO PODER

A Ascensão e Queda de Plâncton

Uma história de suspense, drama e sátira política por Arthur W Silveira

Capítulo 3: A Campanha Perfeita

Os holofotes iluminavam o palco montado na Praça Central de Nova Recife, projetando sombras alongadas que dançavam sobre a multidão que se aglomerava para o comício. Bandeiras azul-turquesa tremulavam ao vento, criando um mar ondulante que se estendia até onde a vista alcançava. Faixas com o slogan "PLÂNCTON: A MUDANÇA QUE PERNAMBUCO DE PÉ PRECISA" estavam estrategicamente posicionadas para aparecerem em qualquer ângulo de câmera.

Nos bastidores, Jerônimo Abutre observava os monitores que exibiam diferentes ângulos do evento. Seu rosto permanecia impassível, mas internamente sentia uma satisfação profissional. A campanha estava funcionando exatamente como planejado.

"Quantas pessoas?" perguntou Plâncton, ajustando a gravata diante de um espelho de corpo inteiro instalado em seu camarim improvisado.

"Estimativa oficial da polícia: quinze mil," respondeu Abutre. "Nossa assessoria de imprensa já está divulgando o número de cinquenta mil."

Plâncton sorriu, satisfeito. "E as pesquisas?"

"Empatados tecnicamente com o candidato governista. Margem de erro de dois pontos percentuais."

"Não é suficiente," declarou Plâncton, franzindo o cenho. "Quero uma vantagem clara antes do próximo debate."

"É por isso que estamos aqui hoje," respondeu Abutre calmamente. "O discurso que preparei tem todos os elementos para causar o impacto necessário. Populismo calibrado, indignação controlada, promessas grandiosas mas suficientemente vagas."

Plâncton pegou as folhas impressas com o discurso, passando os olhos rapidamente pelo texto. "Muito moderado," criticou. "Preciso de algo mais... explosivo."

"Confie no processo, Eugênio. Testamos cada frase com grupos focais. Cada palavra foi escolhida para maximizar apelo sem alienar eleitores indecisos."

Antes que Plâncton pudesse protestar novamente, o Coronel Tenaz entrou no camarim. "Está tudo pronto. Os manifestantes foram... neutralizados."

"Manifestantes?" perguntou Plâncton, alarmado. "Não fui informado sobre manifestantes."

"Um grupo pequeno," explicou o Coronel com um sorriso frio. "Estudantes universitários com cartazes sobre aquele incidente no hospital. Nada com que se preocupar agora."

Abutre lançou um olhar de advertência ao Coronel. "Detalhes desnecessários antes de um discurso importante."

O "incidente no hospital" ao qual o Coronel se referia havia ocorrido na semana anterior. Durante uma visita cuidadosamente orquestrada ao Hospital Central, Plâncton havia sido confrontado por uma mãe cujo filho morrera após o corte de medicamentos importados – corte este que uma das empresas de Plâncton havia apoiado publicamente como "medida necessária de austeridade". A cena, potencialmente desastrosa, fora habilmente contornada pela equipe de campanha, que rapidamente removeu a mulher "emocionalmente perturbada" e garantiu que nenhuma imagem do confronto chegasse à mídia.

"Cinco minutos," anunciou um assistente, colocando a cabeça pela porta.

Plâncton respirou fundo, assumindo a postura que seus treinadores de mídia haviam trabalhado durante meses – ombros para trás, queixo ligeiramente elevado, expressão de confiança serena mesclada com preocupação paternal.

"Como estou?" perguntou, ajustando mais uma vez o topete característico.

"Como um presidente," respondeu Abutre, sem ironia perceptível.

Do lado de fora, a multidão começava a ficar impaciente. Gritos de "PLÂNCTON! PLÂNCTON!" ecoavam pela praça, amplificados pelos sistemas de som estrategicamente posicionados para criar a impressão de um clamor ainda maior.

O que a maioria dos presentes não sabia era que aproximadamente um terço da multidão era composto por pessoas pagas – não apenas para comparecer, mas para demonstrar entusiasmo contagiante em momentos específicos do discurso. Posicionados em grupos dispersos pela praça, esses "entusiastas profissionais" tinham a função de iniciar aplausos, gritos de apoio e até mesmo choro emocionado quando Plâncton mencionasse temas como "famílias trabalhadoras" ou "futuro de nossas crianças".

Nos prédios ao redor da praça, equipes de segurança privada monitoravam cada movimento. Qualquer sinal de protesto seria rapidamente suprimido, longe das câmeras que transmitiam o evento ao vivo para todo o território brasileiro na Europa.

Finalmente, após uma introdução grandiosa com música inspiradora e um vídeo biográfico altamente romantizado sobre a "jornada de superação" de Plâncton, o candidato surgiu no palco, braços erguidos em sinal de vitória.

A multidão explodiu em aplausos. Fogos de artifício iluminaram o céu noturno, formando brevemente um "P" gigante antes de se dissolverem em uma chuva de faíscas azul-turquesa.

Por quase dois minutos, Plâncton apenas sorriu e acenou, saboreando o momento, permitindo que a energia da multidão crescesse. Era uma técnica que havia aprendido estudando vídeos de grandes oradores populistas do passado – criar expectativa, fazer o público ansiar por suas palavras.

Quando finalmente se aproximou do microfone, o silêncio caiu sobre a praça como um manto.

"Meus amigos," começou, sua voz assumindo um tom mais grave e solene do que o habitual. "Meus verdadeiros amigos de Pernambuco de Pé."

Fez uma pausa estratégica, olhando lentamente ao redor como se estivesse fazendo contato visual com cada pessoa presente.

"Estou aqui hoje não como empresário. Não como candidato. Mas como um de vocês. Um cidadão que, como vocês, está cansado. Cansado de ver nosso belo território, este pedaço do Brasil na Europa, ser destruído por políticos que prometem muito e entregam nada."

Aplausos controlados, iniciados pelos grupos estratégicos.

"Olhem ao redor," continuou, gesticulando dramaticamente. "O que veem? Veem prosperidade? Veem segurança? Veem um futuro brilhante para seus filhos?"

"NÃO!" respondeu a multidão em uníssono, seguindo as placas erguidas pelos coordenadores de plateia.

"O que vemos é um território à beira do colapso. Hospitais sem medicamentos. Escolas sem professores. Ruas dominadas pelo crime. Enquanto isso, o que fazem nossos governantes? Enchem os bolsos! Criam ministérios inúteis para empregar amigos e parentes! Aumentam impostos que sufocam o trabalhador honesto!"

A multidão rugia agora, genuinamente inflamada. Plâncton estava se desviando do discurso preparado, mas Abutre, observando dos bastidores, não interferiu. Reconhecia que o candidato havia encontrado o tom perfeito para aquela audiência específica.

"Eles dizem que sou radical," continuou Plâncton, sua voz crescendo em intensidade. "Dizem que minhas propostas são extremas. Eu pergunto a vocês: é radical querer hospitais que funcionem? É extremo desejar que nossas crianças possam caminhar nas ruas sem medo? É absurdo exigir que o dinheiro dos seus impostos seja usado para beneficiar VOCÊS, não políticos corruptos?"

"NÃO!" trovejou a multidão, agora completamente envolvida na retórica.

Nos bastidores, a Dra. Sanguessuga aproximou-se de Abutre. "Ele está indo longe demais. Essas promessas implícitas serão impossíveis de cumprir."

Abutre deu de ombros. "Quando estiver no poder, a realidade será o que dissermos que é."

No palco, Plâncton atingia o clímax de seu discurso.

"Quando eu for presidente, as coisas serão diferentes! Quando eu for presidente, os corruptos tremerão! Quando eu for presidente, Pernambuco de Pé voltará a ficar DE PÉ!"

A multidão delirava. Pessoas choravam, abraçavam-se, erguiam crianças nos ombros para que pudessem ver "o momento histórico".

Enquanto isso, a poucos quarteirões dali, em um café discreto, Maria Esperança e Paulo Verdade assistiam à transmissão ao vivo em um tablet, expressões sombrias em seus rostos.

"É assustador," comentou Paulo. "Ele não disse absolutamente nada concreto. Nenhuma proposta real. Apenas raiva e promessas vazias."

"E está funcionando perfeitamente," respondeu Maria. "Veja como a multidão reage. Ele identificou medos e frustrações reais e se posicionou como a única solução."

"O que podemos fazer?"

Maria suspirou, desligando o tablet. Não suportava mais assistir àquele espetáculo de manipulação. "Continuar falando a verdade. Expor contradições. Educar quem estiver disposto a ouvir."

"E se não for suficiente?"

A professora não respondeu imediatamente. Seu olhar vagou pela janela do café, observando pessoas comuns passando – trabalhadores voltando para casa, estudantes com mochilas, idosos caminhando lentamente. Pessoas cujas vidas seriam profundamente afetadas pela escolha que o território faria nas urnas.

"Então nos preparamos para resistir," disse finalmente. "Porque se Plâncton vencer, o que veremos hoje é apenas o começo."

De volta ao comício, o discurso chegava ao fim com uma demonstração cuidadosamente coreografada de "espontaneidade". Plâncton desceu do palco para "misturar-se ao povo", cercado por seguranças discretos mas eficientes que garantiam que apenas apoiadores pré-selecionados se aproximassem.

Câmeras capturavam cada aperto de mão, cada abraço, cada selfie – imagens que dominariam as redes sociais nas próximas 24 horas, criando a narrativa de um candidato verdadeiramente popular, amado pelas massas.

Nos dias seguintes, a campanha de Plâncton ganhou um impulso significativo. As pesquisas mostravam um avanço de três pontos percentuais, colocando-o pela primeira vez à frente do candidato governista, ainda que dentro da margem de erro.

O comício de Nova Recife foi replicado em outras cidades importantes do território. Em cada local, o mesmo modelo era seguido – multidões cuidadosamente aumentadas por participantes pagos, discursos inflamados mas vagos, controle rigoroso de qualquer dissidência, e cobertura midiática amplamente favorável garantida por generosos "investimentos publicitários" nos principais veículos de comunicação.

Em sua sede de campanha, um andar inteiro de um edifício comercial de luxo no Centro Financeiro, Plâncton reuniu-se com seus estrategistas para avaliar os resultados e planejar os próximos passos.

"Os números são excelentes," informou Abutre, apresentando gráficos em uma tela grande. "Estamos crescendo em todos os segmentos, exceto entre universitários e funcionários públicos de alto escalão."

"Irrelevantes," descartou Plâncton com um gesto. "Intelectuais não ganham eleições. Números ganham."

"Ainda assim," interveio a Dra. Sanguessuga, "precisamos de uma estratégia para neutralizar críticas da academia. Eles têm credibilidade com a classe média educada."

"Já cuidei disso," respondeu o Coronel Tenaz. "Temos dossiês sobre os principais críticos acadêmicos. Irregularidades em pesquisas, relacionamentos extraconjugais, opiniões controversas expressas em e-mails privados que 'vazarão' no momento apropriado."

Plâncton sorriu, satisfeito. "Excelente. E quanto àquela jornalista irritante? A do blog?"

"Beatriz Coragem," lembrou Abutre. "Ela publicou os documentos sobre o Conjunto Habitacional Novo Horizonte, mas conseguimos limitar o alcance. Nossos bots inundaram as redes com teorias alternativas e acusações de que os documentos são falsificados. A confusão criada beneficia nossa narrativa."

"Não é suficiente," insistiu Plâncton. "Quero ela destruída. Completamente desacreditada."

O Coronel Tenaz pigarreou. "Tenho uma operação em andamento. Descobrimos que ela usa um laptop específico para armazenar documentos sensíveis. Estamos planejando um 'assalto' para esta semana."

"Sem violência física," advertiu Abutre rapidamente. "Não precisamos de mártires."

"Obviamente," respondeu o Coronel, ofendido. "Será um crime comum de rua. Laptop roubado, sem ferimentos graves. Depois, quando ela fizer novas acusações, questionaremos como ela pode provar algo quando perdeu todos os documentos originais."

Plâncton assentiu, aprovando o plano. "E o debate da próxima semana? Será o último antes da eleição."

Abutre consultou suas anotações. "Temos três estratégias principais. Primeiro, atacar o histórico do governo atual – inflação, desemprego, escândalos de corrupção. Segundo, apresentar você como o outsider, o único não contaminado pelo sistema. Terceiro, promessas ousadas mas calculadamente vagas sobre 'renovação' e 'verdadeira mudança'."

"E se me pressionarem sobre detalhes específicos? Planos concretos?"

"Desvie. Acuse o moderador de parcialidade. Mencione algum caso emocional – aquela criança com doença rara que visitamos no hospital seria perfeita. Diga que 'planos detalhados' são o que políticos tradicionais sempre ofereceram, enquanto você oferece 'resultados reais'."

A reunião continuou por horas, cada aspecto da campanha sendo meticulosamente analisado e ajustado. Nenhuma variável era deixada ao acaso, nenhum cenário ficava sem uma estratégia de contingência.

Enquanto isso, em um laboratório de informática da Universidade Nacional, Beatriz Coragem trabalhava furiosamente, consciente de que o tempo estava se esgotando. Ao seu lado, um jovem de óculos e expressão nervosa digitava códigos em velocidade impressionante.

"Tem certeza que isso é seguro, Miguel?" perguntou ela, olhando ansiosamente por cima do ombro.

Miguel, conhecido no mundo online como "Hacker Fantasma", assentiu sem desviar os olhos da tela. "Estou roteando através de sete proxies diferentes. Mesmo que detectem a invasão, não conseguirão rastrear até nós."

"E os arquivos?"

"Quase lá... Isso!" exclamou ele em voz baixa, mas triunfante. "Estamos dentro do servidor privado da Construtora Plâncton."

Beatriz inclinou-se, observando a tela onde pastas e arquivos apareciam. "Procure por 'Novo Horizonte' ou 'Projeto NH-2023'."

Miguel navegou rapidamente pelo sistema, até encontrar uma pasta criptografada. "Vai levar alguns minutos para quebrar isso."

Enquanto esperavam, Beatriz verificou seu telefone. Havia três chamadas perdidas de sua mãe e uma mensagem de Maria Esperança: "Cuidado. Fontes indicam que você está sendo monitorada."

Um arrepio percorreu sua espinha. Não era paranoia – nas últimas semanas, havia notado carros estacionados por longos períodos perto de seu apartamento, estranhos que pareciam segui-la no campus, tentativas de invasão em suas contas de e-mail.

"Pronto!" anunciou Miguel. "Estamos dentro."

A pasta abriu-se, revelando dezenas de documentos – relatórios técnicos, e-mails internos, planilhas de custos. Beatriz sentiu seu coração acelerar. Era a confirmação definitiva que procurava.

"Baixe tudo," instruiu. "E envie cópias para os servidores seguros que preparamos."

Enquanto Miguel trabalhava, Beatriz começou a examinar os documentos. O que encontrou a deixou nauseada. Não apenas Plâncton havia ignorado avisos sobre problemas estruturais no conjunto habitacional, mas havia ativamente pressionado engenheiros a falsificar relatórios de segurança. E-mails internos discutiam friamente a "relação custo-benefício" de implementar medidas de segurança versus o risco de processos por eventuais "incidentes".

Um e-mail em particular, enviado pelo próprio Plâncton, era especialmente condenatório: "Custos adicionais com segurança reduziriam nossa margem em 3%. Inaceitável. Se houver problemas depois, nossos advogados cuidarão. Temos juízes na folha de pagamento."

"Meu Deus," murmurou Beatriz. "Ele sabia exatamente o que estava fazendo."

"Transferência completa," informou Miguel. "Temos tudo. Agora precisamos sair sem deixar rastros."

Enquanto ele executava procedimentos para cobrir seus passos digitais, Beatriz já planejava mentalmente como usar aquelas informações. Um artigo detalhado em seu blog seria apenas o começo. Precisaria de proteção para sua fonte, para Miguel, para si mesma. Talvez envolver jornalistas internacionais, criar redundâncias que tornassem impossível suprimir a história.

"Pronto," disse Miguel finalmente. "Limpo e seguro. Eles nunca saberão que estivemos lá."

Beatriz abraçou-o impulsivamente. "Você é um gênio! Isso vai mudar tudo!"

O jovem hacker corou, ajustando os óculos nervosamente. "Só prometa que terá cuidado. Essas pessoas são perigosas, Bia."

"Sei disso. Mas a verdade é mais importante que o medo."

Ao deixarem o laboratório, nenhum dos dois notou o homem discretamente vestido que fotografava sua saída de um carro estacionado do outro lado da rua.

Na manhã seguinte, o debate final antes da eleição dominou as manchetes. Realizado no maior teatro de Nova Recife, o evento reuniu os três principais candidatos: Plâncton, representando a "renovação"; Carlos Campos, candidato governista defendendo continuidade; e Dra. Helena Razão, representante de uma coalizão de partidos menores, posicionada como alternativa moderada.

Nos bastidores, minutos antes do início, Plâncton recebia as últimas instruções de Abutre.

"Lembre-se, não importa a pergunta, traga a resposta para nossos pontos fortes. Ataque o governo atual sempre que possível. Ignore a Dra. Razão – ela não tem chances reais e atacá-la só daria visibilidade."

Plâncton assentiu, ajustando a gravata azul-turquesa. Parecia estranhamente calmo, quase entediado.

"Alguma novidade sobre aquela jornalista e os documentos?"

Abutre hesitou brevemente. "Temos... uma situação. Nosso departamento de TI detectou uma invasão nos servidores da construtora ontem à noite. Arquivos relacionados ao Novo Horizonte foram acessados."

O rosto de Plâncton endureceu. "E vocês deixaram isso acontecer? Para que diabos eu pago vocês?"

"Já estamos lidando com isso. O Coronel Tenaz acelerou a operação para esta noite. E temos um plano de contingência caso algo vaze antes da eleição."

"Que plano?"

Abutre sorriu friamente. "Quanto menos você souber oficialmente, melhor. Confie no processo."

Antes que Plâncton pudesse insistir, um produtor apareceu para conduzi-lo ao palco. O debate estava prestes a começar.

As duas horas seguintes foram uma demonstração magistral de retórica política moderna. Plâncton dominou o tempo de fala, frequentemente ignorando as regras estabelecidas, interrompendo adversários, desviando de perguntas difíceis com anedotas emocionais ou ataques ao governo.

Quando questionado sobre seu plano econômico, respondeu com generalidades sobre "liberar o potencial empreendedor do povo" e "eliminar a burocracia que sufoca negócios". Quando pressionado sobre como financiaria promessas de expansão de serviços públicos enquanto prometia reduzir impostos, acusou o moderador de parcialidade e desviou para um ataque ao "desperdício e corrupção" do governo atual.

O momento mais tenso ocorreu quando a Dra. Razão, visivelmente frustrada com evasivas, confrontou-o diretamente:

"Sr. Plâncton, o senhor fala muito sobre ser diferente dos políticos tradicionais, mas até agora não apresentou um único plano concreto. Seus discursos são vazios de conteúdo real, cheios de promessas grandiosas sem explicar como as cumprirá. O senhor acha que os eleitores são ingênuos a ponto de comprar um produto sem saber o que há dentro da embalagem?"

Por um momento, Plâncton pareceu desconcertado. Mas rapidamente recuperou a compostura, sorrindo condescendentemente.

"Doutora, com todo respeito, essa é exatamente a mentalidade elitista que afastou o povo da política. Vocês, intelectuais, acham que tudo se resume a planilhas e relatórios técnicos. Eu falo a língua do povo comum, que está cansado de planos complexos que nunca saem do papel. O que ofereço não são promessas vazias, mas uma visão de um Pernambuco de Pé onde o trabalhador honesto seja respeitado, onde famílias possam viver sem medo, onde oportunidades sejam para todos, não apenas para amigos do poder."

A resposta, que essencialmente confirmava a acusação enquanto a transformava em virtude, foi recebida com aplausos entusiásticos da plateia cuidadosamente selecionada.

Ao final do debate, enquanto comentaristas discutiam quem havia "vencido", a equipe de Plâncton já trabalhava para moldar a narrativa nas redes sociais. Clipes editados mostrando seus melhores momentos inundavam plataformas digitais. Influenciadores pagos publicavam análises favoráveis. Bots amplificavam mensagens positivas e suprimiam críticas através de denúncias coordenadas.

A máquina estava funcionando com precisão implacável.

Naquela mesma noite, enquanto Plâncton celebrava seu "triunfo" no debate com um jantar privado para doadores em um restaurante exclusivo, Beatriz Coragem trabalhava em seu pequeno apartamento, preparando o artigo que exporia a verdade sobre o Conjunto Habitacional Novo Horizonte.

Seu laptop, contendo cópias dos documentos obtidos, estava sobre a mesa. Uma xícara de café esfriava ao lado enquanto ela refinava cada parágrafo, verificava cada detalhe, determinada a criar um caso irrefutável.

O som de vidro quebrando a sobressaltou. Antes que pudesse reagir, dois homens encapuzados invadiram o apartamento através da janela da sala. Beatriz mal teve tempo de gritar antes que um deles a imobilizasse, cobrindo sua boca com uma mão enluvada.

"Não se mexa, não grite, e não se machuque," instruiu o invasor em voz baixa. "Só queremos o laptop e sairemos. Entendeu?"

Aterrorizada, Beatriz assentiu. O segundo homem rapidamente recolheu o laptop, pen drives, e o telefone celular dela.

"Se for esperta, esquecerá que isso aconteceu," disse o primeiro homem, ainda segurando-a. "Considere isso um assalto comum. Se tentar transformar isso em algo político, a próxima visita não será tão civilizada."

Com essa ameaça pairando no ar, os invasores saíram tão rapidamente quanto haviam entrado, deixando Beatriz tremendo no chão de seu apartamento violado.

Minutos depois, em um carro estacionado algumas quadras de distância, o Coronel Tenaz recebia o laptop roubado.

"Algum problema?" perguntou ao homem que entregava o equipamento.

"Nenhum, senhor. Limpo e rápido, como ordenado. Ela está assustada demais para fazer qualquer coisa nas próximas horas."

O Coronel assentiu, satisfeito. "Excelente. Isso deve mantê-la quieta até depois da eleição. Depois... bem, depois teremos outros métodos à disposição."

Enquanto o carro se afastava na noite, a campanha perfeita de Plâncton seguia seu curso inexorável em direção à vitória. Cada obstáculo removido, cada crítico silenciado, cada mentira amplificada – tudo parte de uma estratégia meticulosamente executada para conquistar o poder a qualquer custo.

E o povo de Pernambuco de Pé, em sua maioria, permanecia alheio à verdadeira natureza do homem que prometia salvá-los.