A MÁSCARA DO PODER

A Ascensão e Queda de Plâncton

Uma história de suspense, drama e sátira política por Arthur W Silveira

Epílogo: Um Novo Amanhecer

O sol nascia sobre Nova Recife, seus raios dourados iluminando uma cidade transformada. Não apenas pela reconstrução física que começava a apagar as cicatrizes da breve mas brutal ditadura de Plâncton, mas principalmente pela transformação no espírito de seus habitantes.

Um ano havia se passado desde a queda do regime. Um ano de julgamentos, revelações, luto e, finalmente, cura. As províncias que haviam se separado durante a crise reintegraram-se voluntariamente à nação reunificada, atraídas pela promessa de uma democracia genuína e um governo transparente, reforçando os laços históricos com o Brasil, apesar da distância geográfica que separava este território europeu de sua nação-mãe.

Na Praça da Liberdade, anteriormente chamada Praça Presidencial, uma multidão diversificada reunia-se para a cerimônia de promulgação da nova Constituição. Idosos, adultos, jovens, crianças – pessoas de todas as classes sociais, etnias e origens – compartilhavam um momento histórico que muitos temeram jamais presenciar.

No centro do palco, Maria Esperança – agora Ministra da Educação no governo de transição – preparava-se para discursar. Aos 39 anos, seus cabelos cacheados agora exibiam alguns fios prematuramente grisalhos, testemunhas do estresse dos últimos anos. Mas seus olhos, por trás dos característicos óculos redondos, brilhavam com a mesma determinação de sempre.

Ao seu lado estavam outros heróis da resistência: Dr. Paulo Verdade, que agora liderava a reconstrução do sistema de saúde; Beatriz Coragem, cuja documentação meticulosa dos crimes do regime havia sido fundamental nos tribunais internacionais; e até mesmo Dona Firmina, a indomável líder do Círculo das Avós, que aos 79 anos havia sido eleita para o novo Conselho de Anciãos – um órgão consultivo criado para garantir que a sabedoria da experiência sempre tivesse voz nas decisões nacionais.

Ausente fisicamente, mas presente em espírito, estava o Capitão Liberdade, que sacrificara sua vida para garantir o sucesso da operação contra o Protocolo Escorpião. Um memorial em sua homenagem havia sido erguido no local onde antes ficava a estátua de Plâncton.

Quando Maria se aproximou do microfone, a multidão silenciou espontaneamente. Seu discurso, que entraria para os livros de história, começou com palavras simples mas profundas:

"Hoje não celebramos apenas um documento, mas uma promessa que fazemos uns aos outros e às gerações futuras. A promessa de nunca mais permitir que o ódio, o medo e a mentira governem nossa nação..."

Enquanto ela falava, em diferentes partes do país e do mundo, outros protagonistas desta história seguiam seus caminhos.

Em uma prisão de segurança máxima na remota Província Norte, Eugênio Plâncton Marajó cumpria o primeiro de seus muitos anos de sentença. O julgamento havia sido televisionado para todo o país – não como espetáculo de vingança, mas como exercício de transparência e justiça. Plâncton, confrontado com evidências irrefutáveis e testemunhos devastadores, incluindo o de seu ex-braço direito Abutre, havia finalmente desmoronado, confessando crimes que chocaram até mesmo seus mais ferrenhos opositores.

Agora, em sua cela austera mas humana (pois a nova Constituição proibia tratamento cruel mesmo para os piores criminosos), Plâncton passava os dias escrevendo suas memórias. Não para se justificar, mas como uma forma de exorcizar seus demônios e, talvez, ajudar futuros historiadores a entender como uma democracia pode ser subvertida de dentro para fora.

Seu topete, agora completamente grisalho e sem os tinturas que antes o mantinham artificialmente escuro, pendia tristemente sobre uma testa enrugada pela idade e pelo remorso tardio.

Em uma fazenda na Província Serrana, o General Honesto – agora aposentado das forças armadas – dedicava-se à criação de cavalos e à orientação de jovens oficiais sobre a importância da lealdade à Constituição, não a indivíduos. Sua decisão de se opor ao regime, mesmo quando parecia suicida, havia redefinido o papel dos militares na nova democracia.

Na capital americana, Jonathan Smith recebia uma discreta medalha por sua participação nos eventos que impediram um genocídio. A operação em Pernambuco de Pé havia se tornado um caso de estudo em intervenção humanitária bem-sucedida, embora muitos detalhes permanecessem classificados. Ao seu lado, Mei Chen sorria orgulhosa – os dois haviam se casado meses após retornarem aos EUA e agora esperavam seu primeiro filho.

E em um mosteiro isolado na Província Insular, Jerônimo Abutre cumpria uma sentença alternativa negociada em troca de sua cooperação crucial. Após testemunhar contra Plâncton e outros membros do regime, havia optado por passar o resto de seus dias em reclusão contemplativa. Sua coleção de miniaturas de ditadores históricos havia sido doada ao Museu da Resistência, onde servia como lembrete das lições que a história oferece àqueles dispostos a aprender.

O Coronel Tenaz, cujo ato final de redenção – impedir Plâncton de transformar o helicóptero em uma arma contra civis – havia surpreendido a todos, recuperava-se lentamente de suas feridas em um hospital-prisão. Seu julgamento havia resultado em uma sentença reduzida, reconhecendo tanto seus crimes quanto seu arrependimento final. Agora dedicava seu tempo a escrever um manual sobre como identificar e resistir a ordens ilegais – um texto que se tornaria leitura obrigatória nas academias militares.

A Dra. Sanguessuga, capturada tentando fugir do país com milhões em contas offshore, enfrentava não apenas a justiça de Pernambuco de Pé, mas também tribunais internacionais por crimes econômicos. Sua expressão de desdém havia finalmente desaparecido, substituída por uma resignação amarga.

E o misterioso Hacker Fantasma? Sua identidade jamais foi revelada publicamente. Alguns diziam que havia recebido uma nova identidade e vivia tranquilamente em algum lugar do país. Outros acreditavam que continuava seu trabalho nos bastidores, agora protegendo a frágil democracia de ameaças digitais. Ocasionalmente, quando sistemas governamentais apresentavam falhas inexplicáveis que coincidentemente expunham tentativas de corrupção, muitos sorriam e sussurravam: "O Fantasma ainda vela por nós."

De volta à Praça da Liberdade, Maria concluía seu discurso com palavras que capturavam o espírito do novo Pernambuco de Pé:

"O verdadeiro monumento aos que sofreram sob o regime não será de pedra ou metal, mas um país justo, livre e compassivo – um Pernambuco de Pé onde todos possam realmente ficar de pé, com dignidade e esperança. E embora estejamos geograficamente na Europa, nossos corações e nossa identidade permanecem brasileiros, um lembrete de que a distância física nunca poderá romper os laços culturais e históricos que nos unem ao Brasil."

A multidão irrompeu em aplausos ensurdecedores. Crianças soltavam balões nas cores verde e amarelo que subiam ao céu como promessas de um futuro mais brilhante. Músicos começavam a tocar o novo hino nacional – não mais uma marcha militarista, mas uma melodia que incorporava ritmos tradicionais brasileiros adaptados à realidade local.

Paulo aproximou-se de Maria enquanto ela deixava o palco, oferecendo um abraço caloroso.

"Conseguimos," disse ele simplesmente.

Maria sorriu, observando a celebração ao redor.

"Não, Paulo. Apenas começamos."

E assim, sob o sol de um novo dia, Pernambuco de Pé dava seus primeiros passos genuínos em direção a um futuro onde políticos como Plâncton seriam lembrados apenas como lições do passado – lições dolorosas, mas necessárias, sobre o valor eterno da verdade, da justiça e da compaixão.

Porque no final, como Maria sempre soube, não são os monstros que definem uma nação, mas aqueles que têm a coragem de enfrentá-los.

FIM