A MÁSCARA DO PODER

A Ascensão e Queda de Plâncton

Uma história de suspense, drama e sátira política por Arthur W Silveira

Interlúdio 1: Nos Bastidores do Poder

TRANSCRIÇÃO DE REUNIÃO ESTRATÉGICA - EQUIPE DE CAMPANHA PLÂNCTON

Data: 15 de abril de 2024

Local: Suíte Presidencial, Hotel Continental, Nova Recife, Pernambuco de Pé (Território Brasileiro na Europa)

Presentes: Eugênio Plâncton (EP), Jerônimo Abutre (JA), Dra. Sanguessuga (DS), Coronel Tenaz (CT), Assessor de Imprensa (AI)

Observação: Transcrição obtida por fonte anônima e vazada para o blog "Verdade Nua e Crua" de Beatriz Coragem em 2026, após a queda do regime.

JA: Senhores, senhoras, vamos começar. As últimas pesquisas mostram que estamos apenas três pontos atrás do candidato governista. A tendência é positiva, mas precisamos acelerar.

EP: Três pontos? TRÊS? Isso é inaceitável! Eu deveria estar dez pontos à frente, no mínimo! O que vocês estão fazendo com todo o dinheiro que estou gastando nesta campanha?

DS: [Suspiro audível] Sr. Plâncton, como já explicamos várias vezes, construir uma imagem pública leva tempo. Especialmente quando partimos de... bem, de onde partimos.

EP: O que quer dizer com isso?

JA: O que a Dra. Sanguessuga quer dizer é que sua imagem anterior como empresário... digamos... assertivo, precisa ser suavizada para o eleitorado geral.

EP: Assertivo? Sou um gênio dos negócios! Um visionário! As pessoas deveriam estar agradecidas por eu me dignar a concorrer!

CT: [Pigarreia] Com todo respeito, senhor, o povo não vê dessa forma. Eles se lembram do escândalo da Construtora Plâncton, quando 200 famílias perderam suas casas porque o senhor construiu em área de risco e suborno—

EP: [Interrompendo] Isso foi completamente exagerado pela mídia! Aquelas pessoas deveriam me agradecer! Antes moravam em barracos, depois ganharam apartamentos novos quando o meu desmoronou!

JA: [Rapidamente] Vamos focar no presente e no futuro, sim? Nossa estratégia está funcionando. O discurso anti-establishment, o posicionamento como outsider...

DS: Os ataques aos imigrantes foram particularmente eficazes. Os números subiram 5% após o discurso sobre "invasores estrangeiros roubando empregos".

EP: [Animado] Eu sabia! O povo quer alguém que diga as verdades que ninguém tem coragem de dizer!

JA: Exatamente. Mas precisamos equilibrar. Para cada ataque, precisamos de uma proposta que pareça beneficiar o povo.

EP: Pareça?

JA: [Pausa] Escolha de palavras infeliz. Que beneficie o povo, claro.

DS: Sobre isso, preparei um pacote econômico que soa progressista mas que, na implementação, favorecerá nossos... parceiros estratégicos.

EP: Adoro quando você fala assim, Doutora. Tão... maquiavélica. [Risos]

AI: Sr. Plâncton, sobre sua entrevista de amanhã no programa "Café com o Povo"... preparei algumas respostas para perguntas difíceis. Precisamos revisar.

EP: Não preciso de respostas preparadas! Sou um comunicador nato!

JA: [Tom firme] Eugênio, da última vez que você "improvisou", chamou uma eleitora de "querida" e sugeriu que ela "não entendia de economia". Perdemos 2% entre o eleitorado feminino.

EP: [Bufando] Ela realmente não entendia! Estava questionando meu plano de cortar o programa de alimentação escolar! Como se crianças precisassem de almoço de graça! No meu tempo, levávamos marmita!

DS: [Murmurando] Sua família tinha três empregadas...

JA: O ponto é: precisamos que você pareça empático. Humano. Alguém com quem o eleitor médio possa se identificar.

EP: [Suspira dramaticamente] Tudo bem, tudo bem. O que tenho que fazer? Beijar bebês? Comer aquela comida horrível de barraca de rua? Usar roupas de pobre?

CT: Na verdade, senhor, planejamos uma visita ao Hospital Público Central amanhã. O Dr. Paulo Verdade, aquele médico popular que aparece sempre na TV, estará lá.

EP: Hospital público? Com doentes? E germes? Absolutamente não!

JA: [Suspirando] Eugênio, você quer ser presidente ou não?

EP: [Pausa longa] Tudo bem. Mas quero luvas. E máscara. E aquele spray desinfetante que uso no iate.

JA: Sem luvas, sem máscara. Vai apertar mãos, sorrir e parecer que se importa.

EP: [Gemendo] As coisas que faço pelo poder...

DS: Falando em poder, precisamos discutir os primeiros 100 dias de governo. Tenho uma lista de decretos prontos para assinar assim que assumir.

EP: [Animado novamente] Ótimo! Começando com a deportação daqueles imigrantes do sul, certo?

JA: [Cauteloso] Na verdade, começaremos com medidas populares. Pequenos aumentos em benefícios sociais, anistia para pequenas dívidas...

EP: [Confuso] Mas isso vai custar dinheiro! Pensei que o plano era cortar gastos!

DS: E é. Mas primeiro precisamos de aprovação popular. Depois, quando sua popularidade estiver alta, implementamos os cortes gradualmente, culpando a "herança maldita" do governo anterior.

EP: [Sorrindo] Ah, entendi! É como quando vendi aquele condomínio de luxo que estava afundando! Primeiro ofereci um ano de condomínio grátis, depois que todos compraram, tripliquei o valor!

JA: [Trocando olhares com DS] Sim, algo... assim.

CT: Sobre segurança, senhor. Tenho um plano para reestruturar as forças policiais, removendo elementos... problemáticos.

EP: Problemáticos?

CT: Aqueles que poderiam questionar ordens. Precisamos de lealdade absoluta para o que vem pela frente.

EP: [Sorrindo] Adoro como você pensa, Coronel. Sempre três passos à frente!

JA: [Consultando relógio] Precisamos encerrar. Eugênio tem um jantar beneficente em uma hora.

EP: [Gemendo] Mais um? Com aquelas pessoas chatas falando de pobreza e educação?

JA: É para arrecadar fundos para crianças com câncer.

EP: [Desinteressado] Tanto faz. Quanto preciso doar para parecer generoso sem realmente afetar minha conta bancária?

DS: Já separamos 0,01% do valor da sua última aquisição imobiliária. Parece muito na televisão, mas é basicamente o que você gasta em gravatas em um mês.

EP: [Satisfeito] Perfeito! Serei o salvador das criancinhas carecas!

JA: [Esfregando as têmporas] Por favor, não use esse termo na frente das câmeras.

EP: [Levantando-se] Bem, se é só isso, vou tomar meu banho de uma hora. Preciso estar radiante para as câmeras!

[EP sai da sala]

JA: [Após longa pausa] Todos ainda acreditam que podemos controlá-lo depois que ele assumir?

DS: Não temos escolha. Ele é nossa melhor chance de implementar as mudanças que queremos.

CT: Além disso, ele é facilmente manipulável. Basta elogiar seu cabelo e ele assina qualquer coisa.

JA: [Pensativo] Espero que estejam certos. Porque se perdermos o controle dele depois...

DS: [Interrompendo] Não perderemos. E se começar a sair da linha, sempre temos aqueles arquivos sobre seus negócios na Província Sul.

CT: E se isso não funcionar, tenho outros... métodos.

JA: [Suspirando] Vamos torcer para não chegar a isso. Reunião encerrada.

[Fim da transcrição]