A MÁSCARA DO PODER

A Ascensão e Queda de Plâncton

Uma história de suspense, drama e sátira política por Arthur W Silveira

Capítulo 6: O Regime das Sombras

Três meses após a implementação do Protocolo Contenção, Pernambuco de Pé havia se transformado em um estado quase irreconhecível. O território brasileiro na Europa, antes conhecido por suas praias deslumbrantes, cultura vibrante e democracia imperfeita mas funcional, agora mais parecia uma prisão a céu aberto.

As ruas de Nova Recife, normalmente repletas de turistas e moradores locais aproveitando o clima mediterrâneo, estavam estranhamente vazias exceto por patrulhas militares e cidadãos apressados completando tarefas essenciais antes do toque de recolher das 20h. Câmeras de vigilância haviam proliferado em cada esquina, seus olhos eletrônicos constantemente observando, julgando, reportando.

No Palácio Presidencial, agora cercado por múltiplas camadas de segurança que incluíam bloqueios de estradas, detectores de metais e guardas armados com metralhadoras, Plâncton conduzia uma reunião com seu círculo íntimo. O ambiente era tenso – não mais a atmosfera de celebração triunfante dos primeiros dias de seu governo, mas algo mais sombrio, carregado de paranoia e suspeita.

"Os americanos continuam com suas ameaças," relatava o Chanceler, consultando um dossiê confidencial. "A última comunicação diplomática menciona 'consequências severas' se não permitirmos uma inspeção internacional das instalações do Projeto Escorpião."

Plâncton, que nas últimas semanas havia desenvolvido um tique nervoso no olho esquerdo, descartou a preocupação com um gesto irritado. "Deixe-os ameaçar. Em duas semanas, quando a fase final do projeto estiver concluída, seremos nós ditando termos a eles, não o contrário."

"E se eles não esperarem duas semanas?" perguntou Abutre, sua voz calma contrastando com a tensão geral. "Há relatórios de movimentação naval significativa no Mediterrâneo. Porta-aviões, destróieres, submarinos..."

"Uma tentativa de intimidação," respondeu o Coronel Tenaz, que agora ostentava um uniforme militar completo em vez dos ternos discretos que costumava usar. "Típica estratégia americana. Mostrar força para forçar concessões diplomáticas."

"E se não for apenas intimidação?" insistiu Abutre. "Se estiverem realmente se preparando para uma intervenção militar?"

Um silêncio desconfortável caiu sobre a sala. A possibilidade de intervenção estrangeira, antes descartada como improvável, tornava-se cada dia mais concreta à medida que a pressão internacional aumentava.

"Nossas defesas estão preparadas," garantiu o Coronel após um momento. "Implementamos protocolos de segurança reforçados em todas as instalações críticas, especialmente no complexo do Projeto Escorpião. Qualquer tentativa de ataque seria... custosa para os agressores."

Plâncton assentiu, satisfeito. "E quanto à situação interna? A resistência?"

O Coronel consultou seu tablet. "Fragmentada e ineficaz. As detenções em massa eliminaram a maioria dos elementos problemáticos. Os poucos que restam estão isolados, sem recursos, incapazes de coordenar ações significativas."

"E aquela mulher? A professora?"

"Maria Esperança continua foragida," admitiu o Coronel, visivelmente desconfortável com esta falha em sua operação de segurança. "Mas é apenas questão de tempo. Temos informantes em todos os lugares. Alguém eventualmente a entregará."

"E o hacker? Ele falou?"

Uma expressão sombria cruzou o rosto do Coronel. "Infelizmente, senhor Presidente, o prisioneiro... expirou... durante interrogatório intensivo. Seus sistemas corporais simplesmente não suportaram os métodos necessários para extrair informações."

Plâncton franziu o cenho. "Incompetência. Ele poderia ter nos levado aos outros."

"Sim, senhor. Os responsáveis foram... disciplinados."

A reunião continuou com relatórios sobre a implementação do racionamento de alimentos (justificado publicamente como resposta a "sanções econômicas injustas" impostas por potências estrangeiras), a expansão do sistema de vigilância "Olho Que Tudo Vê", e a criação de novos campos de "reeducação" para dissidentes políticos.

Quando todos os assuntos oficiais foram discutidos, Plâncton dispensou a maioria dos presentes, retendo apenas Abutre e a Dra. Sanguessuga para uma conversa privada.

"Vocês dois têm estado... quietos... ultimamente," observou ele, estudando-os com olhos estreitados. "Menos entusiasmados com nosso projeto do que antes."

"Apenas preocupados com detalhes práticos, senhor Presidente," respondeu a Dra. Sanguessuga diplomaticamente. "A economia está sob pressão severa devido ao isolamento internacional. Reservas de moeda estrangeira estão praticamente esgotadas. Inflação atingindo níveis perigosos."

"Problemas temporários," descartou Plâncton. "Quando o Projeto Escorpião estiver operacional, teremos poder de barganha suficiente para forçar o levantamento de sanções e estabelecer novos acordos comerciais em nossos termos."

"E se o projeto não funcionar conforme esperado?" perguntou Abutre, mantendo sua voz deliberadamente neutra. "Toda estratégia deve considerar cenários alternativos."

Plâncton encarou-o friamente. "O projeto funcionará. Os cientistas garantiram isso. Aqueles que ainda estão vivos, pelo menos."

A implicação sinistra pairou no ar por um momento antes que ele continuasse: "De qualquer forma, não chamei vocês para discutir contingências pessimistas. Tenho uma tarefa especial. Algo que requer... discrição absoluta."

Ele abriu uma gaveta de sua escrivaninha e retirou um pequeno dispositivo eletrônico, colocando-o sobre a mesa. "Isto é um detonador. Conectado a explosivos estrategicamente posicionados em locais-chave por todo o país."

Abutre e Sanguessuga trocaram olhares alarmados.

"Locais-chave?" perguntou a Dra. hesitantemente.

"Barragens. Usinas químicas. Instalações de armazenamento de combustível." Plâncton sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos. "Nossa apólice de seguro, digamos assim. Se os americanos ou qualquer outra potência tentarem uma intervenção militar, acionaremos isto. O caos resultante tornaria qualquer ocupação... problemática."

"Isso mataria milhares de civis inocentes," observou Abutre, incapaz de esconder completamente seu horror.

"Danos colaterais inevitáveis em tempos de guerra," respondeu Plâncton friamente. "Além disso, a mera existência deste dispositivo serve como dissuasão. Uma vez que informemos discretamente certas potências sobre ele, pensarão duas vezes antes de intervir."

"Chantagem nuclear sem armas nucleares," murmurou a Dra. Sanguessuga.

"Precisamente! Engenhoso, não?" Plâncton parecia quase infantilmente orgulhoso de sua estratégia. "O Coronel Tenaz supervisionou pessoalmente a instalação. Apenas nós três e ele conhecemos todos os detalhes."

Ele empurrou o dispositivo na direção de Abutre. "Você ficará com isto. Como meu estrategista mais confiável, terá autoridade para acioná-lo caso eu esteja... indisponível... por qualquer motivo."

Abutre olhou para o pequeno objeto como se fosse uma serpente venenosa, mas manteve sua expressão profissional enquanto o pegava cuidadosamente. "Uma responsabilidade significativa, senhor Presidente."

"Que sei que você exercerá com sabedoria, se necessário." Plâncton levantou-se, indicando que a reunião estava encerrada. "Agora, se me dão licença, tenho uma transmissão nacional para preparar. O povo precisa ser tranquilizado regularmente em tempos difíceis."

Quando Abutre e Sanguessuga saíram do escritório presidencial, nenhum falou até estarem em um corredor vazio, longe de possíveis ouvintes.

"Ele enlouqueceu completamente," sussurrou a Dra., seu rosto normalmente composto agora pálido de choque.

Abutre olhou significativamente para as câmeras de segurança no teto antes de responder em voz igualmente baixa: "Não aqui. Encontre-me no local habitual. Meia-noite."

Enquanto os mais altos funcionários do regime lidavam com sua crescente crise moral, nas profundezas da sociedade, a vida sob o Protocolo Contenção tornava-se cada dia mais insuportável para os cidadãos comuns.

No bairro operário de Boa Viagem, uma fila se estendia por três quarteirões em frente a um centro de distribuição de alimentos. Pessoas de todas as idades aguardavam pacientemente, cartões de racionamento em mãos, para receber suas parcas alocações semanais.

"Dizem que hoje não tem carne novamente," comentou uma senhora idosa para a jovem mãe ao seu lado. "Terceira semana seguida."

"Pelo menos ainda tem feijão e arroz," respondeu a jovem, ajustando o bebê em seus braços. "No Centro, ouvi que estão recebendo apenas farinha e óleo."

Um homem à frente delas virou-se discretamente. "Cuidado com o que falam. Tem informantes em todo lugar."

As mulheres imediatamente silenciaram, olhando nervosamente ao redor. A paranoia havia se tornado parte da vida cotidiana – nunca saber quem poderia estar ouvindo, quem poderia reportar comentários "desleais" às autoridades.

Próximo dali, no que antes era uma escola pública e agora funcionava como "Centro de Reeducação Cívica #7", dezenas de "elementos subversivos" – na verdade, cidadãos comuns que haviam questionado o regime ou simplesmente caído em desgraça – eram submetidos a longas sessões de doutrinação política.

"Repitam comigo," instruía um oficial de uniforme preto, sua voz monótona ecoando nas paredes da antiga sala de aula. "O Presidente Plâncton é o guardião da nação. Sua liderança é nossa salvação."

"O Presidente Plâncton é o guardião da nação. Sua liderança é nossa salvação," entoavam os "estudantes" em uníssono, seus rostos exaustos e temerosos.

"As potências estrangeiras conspiram contra nossa soberania. Apenas unidos sob a liderança do Presidente podemos resistir."

"As potências estrangeiras conspiram contra nossa soberania. Apenas unidos sob a liderança do Presidente podemos resistir."

A cena se repetia em centros similares por todo o país – uma tentativa sistemática de quebrar o espírito de resistência e substituí-lo com obediência cega.

Nos hospitais, a situação era igualmente sombria. No Hospital Central, agora operando com menos da metade dos medicamentos e equipamentos necessários, médicos e enfermeiros lutavam para salvar vidas em condições cada vez mais precárias.

Dr. Paulo Verdade, que havia conseguido evitar detenção graças à intervenção discreta de colegas que falsificaram registros para "provar" sua lealdade ao regime, trabalhava um turno duplo na emergência. Seu rosto mostrava o desgaste de meses de privação de sono e estresse constante.

"Precisamos racionar o antibiótico," instruía ele a uma jovem enfermeira, sua voz baixa para evitar que pacientes ouvissem. "Prioridade para crianças e casos com risco imediato de vida."

"E os outros?" perguntou ela, igualmente discreta.

Paulo fechou os olhos brevemente, o peso da decisão impossível evidente em sua expressão. "Tratamentos alternativos. Faça o melhor que puder."

A enfermeira assentiu, compreendendo o que não foi dito: muitos não sobreviveriam.

Enquanto verificava o prontuário de um paciente, Paulo notou um homem de terno observando-o do corredor. Não era a primeira vez que percebia vigilância – como médico de alto perfil que uma vez falara abertamente contra o regime, sabia que estava constantemente sendo monitorado.

O que seus observadores não sabiam era que, sob sua aparente submissão, Paulo continuava resistindo da única maneira que podia: desviando secretamente suprimentos médicos para a resistência clandestina e tratando feridos que não podiam buscar ajuda oficial por medo de serem denunciados.

À noite, após seu turno, Paulo seguiu uma rota tortuosa até um porão discreto em um bairro residencial decadente. Após uma série de batidas codificadas, a porta foi aberta por uma figura familiar – Beatriz Coragem, agora quase irreconhecível com cabelo curto tingido e óculos falsos.

"Trouxe o que pude," disse ele, entregando-lhe uma bolsa médica disfarçada como sacola de compras. "Antibióticos, analgésicos, material para sutura. Não muito, mas..."

"É mais do que tínhamos," completou ela, conduzindo-o para dentro. "E precisaremos de tudo. Temos três feridos da operação de ontem."

O porão havia sido convertido em uma pequena clínica improvisada. Em colchões no chão, três jovens apresentavam ferimentos diversos – um com queimaduras no braço, outro com o que parecia ser um ferimento de bala na perna, o terceiro com contusões faciais severas.

"O que aconteceu?" perguntou Paulo, já lavando as mãos em uma bacia de água.

"Tentamos sabotar uma torre de transmissão do sistema 'Olho Que Tudo Vê'," explicou um dos feridos, sua voz tensa de dor. "Quase conseguimos, mas fomos surpreendidos por uma patrulha. Estes foram os sortudos que escaparam."

Paulo trabalhou metodicamente, tratando os ferimentos mais graves primeiro. Enquanto suturava o ferimento de bala, perguntou a Beatriz: "Alguma notícia de Maria?"

"Nada direto há semanas. Mas o sistema de mensageiros ainda funciona, embora lentamente. Ela está coordenando células de resistência em pelo menos três províncias agora."

"E... Miguel?" A pergunta foi hesitante. Todos sabiam que Miguel havia sido capturado, mas seu destino exato permanecia incerto.

O rosto de Beatriz endureceu. "Confirmado. Ele está morto. Um contato dentro do sistema prisional finalmente conseguiu acesso aos registros."

Paulo parou brevemente, fechando os olhos em um momento de silêncio respeitoso antes de continuar seu trabalho. "Sinto muito, Beatriz. Ele era um bom homem."

"O melhor," concordou ela, sua voz firme apesar da dor evidente. "E é por isso que continuamos lutando. Para que seu sacrifício – e o de tantos outros – não seja em vão."

Enquanto trabalhavam, Beatriz atualizou Paulo sobre os desenvolvimentos recentes na resistência. Apesar da repressão brutal, pequenos atos de sabotagem e desobediência continuavam por todo o país. Panfletos clandestinos circulavam de mão em mão. Grafites anti-regime apareciam durante a noite em paredes públicas. Pequenas células de resistência coordenavam ações para interromper operações governamentais sempre que possível.

"E há rumores," acrescentou ela em voz baixa, "de que potências estrangeiras finalmente estão se preparando para intervir."

"Você acha que é verdade desta vez?" perguntou Paulo, aplicando um curativo improvisado na perna do paciente.

"Talvez. Maria tem contatos que sugerem que os americanos estão particularmente alarmados com algo chamado 'Projeto Escorpião'. Aparentemente, os documentos que Miguel conseguiu enviar antes de ser capturado revelaram algo suficientemente grave para superar sua habitual relutância em intervir."

"E se intervierem? O que acontece conosco?"

Beatriz hesitou. "Ninguém sabe ao certo. Mas uma coisa é clara: Plâncton não entregará o poder pacificamente. Se sentir que está encurralado... há preocupações sobre o que ele poderia fazer em desespero."

A implicação pairou pesadamente no ar enquanto Paulo terminava de tratar os feridos. Antes de partir, combinaram um novo ponto de encontro para a próxima semana – uma precaução necessária em um mundo onde permanecer previsível significava eventual captura.

Enquanto isso, em uma casa de campo isolada nos arredores de Nova Recife – um local escolhido especificamente por sua distância de dispositivos de vigilância – Jerônimo Abutre e a Dra. Sanguessuga encontravam-se para a conversa que haviam adiado mais cedo.

A casa pertencia nominalmente a um primo distante de Sanguessuga, um homem idoso que raramente a visitava – cobertura perfeita para reuniões que precisavam permanecer fora dos registros oficiais.

"Ele cruzou todas as linhas possíveis," dizia Abutre, caminhando nervosamente pela sala modestamente mobiliada. O detonador que Plâncton lhe entregara estava sobre a mesa entre eles, um lembrete físico da loucura que agora guiava o regime. "Armas biológicas. Explosivos em infraestrutura civil. Ameaças de destruição em massa contra nosso próprio povo."

"Sem mencionar os campos de 'reeducação', as execuções extrajudiciais, a fome induzida por políticas..." acrescentou Sanguessuga, servindo-se de uma generosa dose de conhaque. "Não é o que planejamos, Jerônimo."

"Não," concordou ele, finalmente sentando-se. "Planejamos um governo autoritário, sim. Controle da mídia, manipulação econômica, até mesmo certo nível de repressão política. Mas não... isto." Ele gesticulou para o detonador. "Não genocídio."

"A questão é: o que fazemos agora?"

Abutre estudou sua colega de conspiração por um longo momento. "Você sabe o que precisamos fazer. O que deveríamos ter feito há meses, quando os primeiros sinais de sua instabilidade mental se tornaram evidentes."

Sanguessuga tomou um gole de sua bebida, considerando as implicações. "Um golpe dentro do golpe? Remover Plâncton e assumir o controle?"

"Precisamente."

"E depois? Os americanos ainda estariam à nossa porta. O Projeto Escorpião ainda existiria. A crise econômica continuaria."

"Mas poderíamos negociar a partir de uma posição de sanidade relativa," argumentou Abutre. "Desmantelar o projeto, permitir inspeções internacionais, gradualmente relaxar as medidas mais draconianas do Protocolo Contenção. Não seria uma rendição completa, mas uma... reorientação estratégica."

"O Coronel Tenaz jamais concordaria. Ele é completamente leal a Plâncton."

"O Coronel pode ser... neutralizado... se necessário."

Sanguessuga ergueu as sobrancelhas. "Você já tem um plano."

"Tenho contingências para todas as possibilidades. Sempre tive." Abutre inclinou-se para frente. "A questão é: posso contar com você?"

Após um momento de reflexão, ela assentiu lentamente. "Sim. Não por algum despertar moral tardio – ambos temos sangue demais em nossas mãos para fingir inocência. Mas por pragmatismo. O caminho atual leva à destruição total."

"Então está decidido." Abutre retirou um pequeno notebook de seu paletó. "Precisaremos agir rapidamente. Meus contatos sugerem que os americanos estão finalizando planos de intervenção. Podemos ter apenas dias, não semanas."

Enquanto os dois arquitetos originais do regime planejavam sua traição final, em outro ponto da cidade, Maria Esperança conduzia sua própria reunião clandestina. Diferente de encontros anteriores, este acontecia virtualmente – uma precaução necessária dado o aumento da vigilância.

Através de uma rede improvisada de comunicações seguras – utilizando equipamentos modificados por Miguel antes de sua captura – Maria conectava-se com líderes de células de resistência em diferentes províncias.

"A situação está se aproximando de um ponto crítico," explicava ela, sua voz distorcida digitalmente para evitar identificação caso a transmissão fosse interceptada. "Nossas fontes confirmam movimentação militar significativa no Mediterrâneo. Os americanos parecem estar se preparando para algum tipo de operação."

"Intervenção direta?" perguntou uma voz, identificada apenas como "Líder-Norte".

"Possivelmente. O que sabemos com certeza é que o Projeto Escorpião os alarmou profundamente. Documentos que conseguimos enviar para fora revelam que não é apenas uma arma biológica comum, mas algo com potencial de disseminação global."

"Meu Deus," murmurou outra voz ("Líder-Sul"). "Ele realmente enlouqueceu."

"A questão agora é: qual nosso papel se uma intervenção externa realmente ocorrer?" continuou Maria. "Precisamos estar preparados para agir decisivamente no momento certo."

A discussão que se seguiu foi intensa, com opiniões divididas. Alguns argumentavam por ações agressivas imediatas – sabotagem em larga escala, ataques coordenados a instalações governamentais. Outros defendiam cautela, temendo que ações precipitadas pudessem provocar retaliação brutal contra a população civil.

"Há outro fator a considerar," interveio Maria após ouvir todos os argumentos. "Recebemos informações de uma fonte dentro do regime – alguém altamente posicionado – sugerindo que pode haver uma tentativa interna de remover Plâncton nos próximos dias."

Esta revelação foi recebida com surpresa e ceticismo.

"Podemos confiar nesta fonte?" perguntou Líder-Norte.

"Até certo ponto," respondeu Maria cuidadosamente. "Suas informações anteriores provaram-se precisas. E o cenário é plausível – sabemos que há divisões crescentes no círculo interno."

"Mesmo que seja verdade," argumentou Líder-Sul, "substituir Plâncton por Abutre ou outro membro do regime seria apenas trocar seis por meia dúzia. Todos têm sangue em suas mãos."

"Concordo," disse Maria. "Mas uma luta interna no regime poderia criar a abertura que precisamos. Enquanto eles brigam entre si, poderíamos mobilizar apoio popular para uma verdadeira mudança democrática."

Após mais discussão, um consenso emergiu: a resistência intensificaria preparativos para ação coordenada, mas aguardaria o momento ideal – seja uma intervenção externa, um golpe interno, ou alguma combinação de ambos.

"Lembrem-se," concluiu Maria, "nosso objetivo final não é apenas remover Plâncton, mas restaurar a democracia e reconstruir Pernambuco de Pé como uma sociedade justa. Não podemos permitir que um tirano seja simplesmente substituído por outro."

Enquanto a reunião virtual terminava, Maria desligou cuidadosamente os equipamentos e preparou-se para mudar novamente de esconderijo – uma rotina que havia se tornado segunda natureza após meses como a fugitiva mais procurada do regime.

Olhando pela janela do pequeno apartamento que havia sido seu lar temporário por apenas três dias, ela observou o céu noturno de Nova Recife. Apesar do toque de recolher, algumas luzes ainda brilhavam na cidade – sinais de vida persistindo mesmo nas circunstâncias mais sombrias.

Por um momento, permitiu-se sentir uma centelha de esperança. Talvez, apenas talvez, o longo pesadelo estivesse finalmente se aproximando do fim.

O que ela não podia saber – o que ninguém fora do círculo mais íntimo de Plâncton poderia saber – era que eventos já estavam em movimento que transformariam completamente a situação nas próximas 48 horas.

No complexo altamente secreto onde o Projeto Escorpião estava sendo desenvolvido, cientistas trabalhavam freneticamente sob vigilância armada, correndo para concluir os estágios finais antes do prazo impossível imposto por Plâncton.

No Pentágono, em Washington, oficiais militares de alta patente finalizavam planos para uma operação que, esperavam, neutralizaria a ameaça sem desencadear consequências catastróficas.

E no Palácio Presidencial, Plâncton, cada vez mais paranoico e isolado, fazia seus próprios planos – planos que nem mesmo seus assessores mais próximos conheciam completamente.

O regime das sombras havia atingido seu auge de poder e controle. Mas como frequentemente acontece na história, o momento de maior poder frequentemente precede a queda mais dramática.

As peças estavam posicionadas. O palco, preparado. Faltava apenas o catalisador final que transformaria tensão em ação, ameaça em realidade, e potencial em consequência.

Esse catalisador chegaria mais cedo do que qualquer um esperava.